No
dia 29 de Janeiro comemoramos o "Dia da Hospitalidade". A importância que esta
prática vem adquirindo para a sociedade moderna nos motiva a trazer algumas
reflexões sobre a prática da hospitalidade, em suas várias dimensões.
São
diversos os contextos nos quais podemos observar e escrever sobre a
hospitalidade. No teológico/divino, em que várias passagens bíblicas tratam do
dever de ser hospitaleiro. No antropológico, onde os desdobramentos do encontro
dão sentido às análises. E no cultural/comercial, em que a hospitalidade é
considerada elemento base para o encontro entre visitantes e anfitriões,
relação que fomenta o desenvolvimento socioeconômico das regiões. O papel de
estudioso da área, no contexto atual em que o Brasil se prepara para o
acolhimento de milhões de pessoas em um curto período de tempo, nos leva a
escolher este olhar. Contudo, aqueles aspectos antropológicos, e até mesmo o
divino, se tratando da realidade brasileira, não podem ser excluídos de
qualquer observação sobre a hospitalidade.
Para
sintonizar os pensamentos, vamos considerar hospitalidade como “o ato de
acolher e prestar serviços a alguém que por qualquer motivo esteja fora de seu
social de domicilio, é uma relação especializada entre dois protagonistas,
aquele que recebe e aquele que é recebido, mas não é só isso” (GOTMAN, 2001 apud GRINOVER, 2002). O horizonte
apresentado pelo “não é só isso”, ao final da definição, revela que a
hospitalidade vai além do que conseguimos descrever em conceitos. A dádiva,
presente nas relações de hospitalidade, e o processo contínuo de dar, receber e
retribuir, conforme observado por Mauss, sinalizam para a grande dimensão desta
prática.
Considerando
os atores do ato de receber e ser recebido, logo imaginamos os encontros
proporcionados pelo turismo. Atividade socioeconômica que tem motivado o
deslocamento de 1 bilhão de pessoas entre países, que viajam em busca de lazer,
descanso, conhecimento, ou mesmo a trabalho. Em toda viagem estas pessoas
precisam ser recebidos, pelos comissários do avião, pelos recepcionistas nos hotéis,
pelos moradores da cidade visitada. Além do impacto econômico, que resulta na
movimentação de mais de 1 trihão de dólares em receitas com o turismo
internacional (OMT, 2012), a hospitalidade oferecida aos viajantes se fortalece
como fator cultural, necessário para a convivência entre os povos. Este aspecto
é evidenciado nos movimentos migratórios que geram esforços e conflitos na Europa
e nos Estados Unidos, por exemplo.
No
Brasil, mesmo considerando a forte característica de povo hospitaleiro, sempre
destacada pelos governantes, pelo setor de turismo, não podemos deixar
despercebidos alguns episódios em que os nordestinos são hostilizados por
pessoas de outras regiões, ou quando reclamamos da quantidade de pessoas que
vêm do interior para um domingo de lazer nas praias da capital. E pouco tem
sido feito para diminuir esta falta de hospitalidade.
Já
em seu aspecto comercial/profissional, que envolve o turismo, a hospitalidade
brasileira tem adquirido cada vez mais consistência, conquistando o
reconhecimento internacional. Isto pode ser verificado na conquista da Copa do
Mundo e dos Jogos Olímpicos, quando as comissões organizadoras atestaram que o
Brasil teria as condições adequadas para receber estes eventos e acolher as
centenas de milhares de pessoas que virão com eles.
Verificamos
os esforços do país para melhor acolher estes visitantes em vários exemplos:
nos canteiros das obras dos estádios, de avenidas; na construção de novos hotéis
pela iniciativa privada; na qualificação dos profissionais, que devem receber os
visitantes em sua língua mãe... E lembrando aquele processo da dádiva, o país
espera que o mundo retribua a hospitalidade dizendo: fomos muito bem recebidos
no Brasil e gostaríamos de voltar.
Mas
a hospitalidade é para todos os que precisam de acolhimento! Então, não deve
ser praticada apenas com os turistas internacionais, ou os que vêm de outras
cidades e estados brasileiros. Podemos praticar a hospitalidade no dia a dia,
em nossa cidade, em várias situações. Por exemplo: na padaria, aonde milhares
de pessoas vão todos os dias buscar o pão ou mesmo tomar seu café da manhã; nas
lojas dos centros comerciais, onde muitas vezes procuramos algum produto, e um
colaborador nos acolhe e ajuda a encontrar o que procuramos; nas escolas e
universidade, onde os estudantes podem ser acolhidos pelos professores no
primeiro dia de aula, dando início àquele processo de dar-receber-retribuir...que
resultará em mais respeito entre professor e estudantes; nas redes sociais, se
considerarmos que passamos boa parte do dia neste ambiente virtual, é oportuno
se preocupar em ser gentil e respeitoso nos comentários, nos cumprimentos aos
amigos...
Voltando
para o olhar de pesquisador, destacamos alguns resultados revelados por pelo
Instituto Brasileiro de Hospitalidade Empresarial (IBHE), que tem colaborado
para a difusão da prática da hospitalidade no cotidiano empresarial, em vários
setores. Na última pesquisa do IBHE, em 2012, foi apontado que o respeito, a
confiança e o acolhimento são atributos que demonstram a hospitalidade. Para
100% dos entrevistados, a hospitalidade pode ser inserida na cultura de uma
empresa, e isto leva a um diferencial competitivo. Também se concluiu que a
hospitalidade é uma atitude que pode ser aprendida e desenvolvida. E 97% dos
entrevistados acredita que os profissionais que praticam a hospitalidade no dia
a dia vivem melhor.
Na
UFMA, o tema da hospitalidade tem sido cada vez mais presente, tanto nas
atividades de ensino, como na pesquisa e na extensão. Sendo que algumas ações
refletem no cotidiano da universidade, tornando-a mais acolhedora. No ensino,
os cursos de Hotelaria e de Turismo, com 25 anos de funcionamento, são os principais
responsáveis pela difusão do conhecimento científico e técnico sobre a
hospitalidade. Este ano teremos o curso de pós-graduação latu sensu “Gestão e Marketing da Hospitalidade”. Na pesquisa, além
dos trabalhos de conclusão de curso, que tratam do tema, podemos destacar a
pesquisa “O mercado hoteleiro e o profissional da hospitalidade no Maranhão”, em
andamento, com apoio da FAPEMA. Na extensão, vários projetos e eventos têm
destacado este tema: os projetos “Profissionalização da Hospitalidade” e “Hospitalidade
no Campus”, este último vem realizando campanhas em prol da prática da
hospitalidade; Na reunião anual da SBPC, realizada em 2012 na UFMA, a atuação
da Comissão de Hospitalidade foi destacada pelos participantes e pela direção
nacional. Em prol da hospitalidade ludovicense, foi publicada, com a
Coordenação de Professores da UFMA, a Carta de Turismo e Hospitalidade de São
Luís, em novembro de 2012 (leia aqui http://www.ufma.br/editais/arquivos/cartaturismo_e_hosp._2012.pdf).
Neste "Dia da Hospitalidade", o Núcleo de Projetos e Pesquisas em Hotelaria está dando
continuidade à campanha em prol da hospitalidade no dia a dia. Com a
colaboração dos estudantes e professores, na campanha “Hospitalidade. Pratique.
Compartilhe”, vários banners com mensagens de sensibilização estão sendo compartilhados
no facebook (www.facebook.com/nupphoufma).
Também será realizada a palestra/debate: A Hospitalidade nas Empresas:
avaliações e perspectivas para o mercado brasileiro, no Centro Pedagógico Paulo
Freire, das 14h as 17h00.
Nosso
obrigado aos que acolheram as ideias deste texto. Fica o convite para praticar e
compartilhar a hospitalidade, neste dia da hospitalidade, todos os dias.
Por Davi Andrade
Professor do Departamento de Turismo e Hotelaria | UFMA