segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Hospitalidade para o Brasil e o Dia da Hospitalidade



No dia 29 de Janeiro comemoramos o "Dia da Hospitalidade". A importância que esta prática vem adquirindo para a sociedade moderna nos motiva a trazer algumas reflexões sobre a prática da hospitalidade, em suas várias dimensões.

São diversos os contextos nos quais podemos observar e escrever sobre a hospitalidade. No teológico/divino, em que várias passagens bíblicas tratam do dever de ser hospitaleiro. No antropológico, onde os desdobramentos do encontro dão sentido às análises. E no cultural/comercial, em que a hospitalidade é considerada elemento base para o encontro entre visitantes e anfitriões, relação que fomenta o desenvolvimento socioeconômico das regiões. O papel de estudioso da área, no contexto atual em que o Brasil se prepara para o acolhimento de milhões de pessoas em um curto período de tempo, nos leva a escolher este olhar. Contudo, aqueles aspectos antropológicos, e até mesmo o divino, se tratando da realidade brasileira, não podem ser excluídos de qualquer observação sobre a hospitalidade.



Para sintonizar os pensamentos, vamos considerar hospitalidade como “o ato de acolher e prestar serviços a alguém que por qualquer motivo esteja fora de seu social de domicilio, é uma relação especializada entre dois protagonistas, aquele que recebe e aquele que é recebido, mas não é só isso” (GOTMAN, 2001 apud GRINOVER, 2002). O horizonte apresentado pelo “não é só isso”, ao final da definição, revela que a hospitalidade vai além do que conseguimos descrever em conceitos. A dádiva, presente nas relações de hospitalidade, e o processo contínuo de dar, receber e retribuir, conforme observado por Mauss, sinalizam para a grande dimensão desta prática.

Considerando os atores do ato de receber e ser recebido, logo imaginamos os encontros proporcionados pelo turismo. Atividade socioeconômica que tem motivado o deslocamento de 1 bilhão de pessoas entre países, que viajam em busca de lazer, descanso, conhecimento, ou mesmo a trabalho. Em toda viagem estas pessoas precisam ser recebidos, pelos comissários do avião, pelos recepcionistas nos hotéis, pelos moradores da cidade visitada. Além do impacto econômico, que resulta na movimentação de mais de 1 trihão de dólares em receitas com o turismo internacional (OMT, 2012), a hospitalidade oferecida aos viajantes se fortalece como fator cultural, necessário para a convivência entre os povos. Este aspecto é evidenciado nos movimentos migratórios que geram esforços e conflitos na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo.

No Brasil, mesmo considerando a forte característica de povo hospitaleiro, sempre destacada pelos governantes, pelo setor de turismo, não podemos deixar despercebidos alguns episódios em que os nordestinos são hostilizados por pessoas de outras regiões, ou quando reclamamos da quantidade de pessoas que vêm do interior para um domingo de lazer nas praias da capital. E pouco tem sido feito para diminuir esta falta de hospitalidade.

Já em seu aspecto comercial/profissional, que envolve o turismo, a hospitalidade brasileira tem adquirido cada vez mais consistência, conquistando o reconhecimento internacional. Isto pode ser verificado na conquista da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, quando as comissões organizadoras atestaram que o Brasil teria as condições adequadas para receber estes eventos e acolher as centenas de milhares de pessoas que virão com eles.

Verificamos os esforços do país para melhor acolher estes visitantes em vários exemplos: nos canteiros das obras dos estádios, de avenidas; na construção de novos hotéis pela iniciativa privada; na qualificação dos profissionais, que devem receber os visitantes em sua língua mãe... E lembrando aquele processo da dádiva, o país espera que o mundo retribua a hospitalidade dizendo: fomos muito bem recebidos no Brasil e gostaríamos de voltar.

Mas a hospitalidade é para todos os que precisam de acolhimento! Então, não deve ser praticada apenas com os turistas internacionais, ou os que vêm de outras cidades e estados brasileiros. Podemos praticar a hospitalidade no dia a dia, em nossa cidade, em várias situações. Por exemplo: na padaria, aonde milhares de pessoas vão todos os dias buscar o pão ou mesmo tomar seu café da manhã; nas lojas dos centros comerciais, onde muitas vezes procuramos algum produto, e um colaborador nos acolhe e ajuda a encontrar o que procuramos; nas escolas e universidade, onde os estudantes podem ser acolhidos pelos professores no primeiro dia de aula, dando início àquele processo de dar-receber-retribuir...que resultará em mais respeito entre professor e estudantes; nas redes sociais, se considerarmos que passamos boa parte do dia neste ambiente virtual, é oportuno se preocupar em ser gentil e respeitoso nos comentários, nos cumprimentos aos amigos...

Voltando para o olhar de pesquisador, destacamos alguns resultados revelados por pelo Instituto Brasileiro de Hospitalidade Empresarial (IBHE), que tem colaborado para a difusão da prática da hospitalidade no cotidiano empresarial, em vários setores. Na última pesquisa do IBHE, em 2012, foi apontado que o respeito, a confiança e o acolhimento são atributos que demonstram a hospitalidade. Para 100% dos entrevistados, a hospitalidade pode ser inserida na cultura de uma empresa, e isto leva a um diferencial competitivo. Também se concluiu que a hospitalidade é uma atitude que pode ser aprendida e desenvolvida. E 97% dos entrevistados acredita que os profissionais que praticam a hospitalidade no dia a dia vivem melhor.

Na UFMA, o tema da hospitalidade tem sido cada vez mais presente, tanto nas atividades de ensino, como na pesquisa e na extensão. Sendo que algumas ações refletem no cotidiano da universidade, tornando-a mais acolhedora. No ensino, os cursos de Hotelaria e de Turismo, com 25 anos de funcionamento, são os principais responsáveis pela difusão do conhecimento científico e técnico sobre a hospitalidade. Este ano teremos o curso de pós-graduação latu sensu “Gestão e Marketing da Hospitalidade”. Na pesquisa, além dos trabalhos de conclusão de curso, que tratam do tema, podemos destacar a pesquisa “O mercado hoteleiro e o profissional da hospitalidade no Maranhão”, em andamento, com apoio da FAPEMA. Na extensão, vários projetos e eventos têm destacado este tema: os projetos “Profissionalização da Hospitalidade” e “Hospitalidade no Campus”, este último vem realizando campanhas em prol da prática da hospitalidade; Na reunião anual da SBPC, realizada em 2012 na UFMA, a atuação da Comissão de Hospitalidade foi destacada pelos participantes e pela direção nacional. Em prol da hospitalidade ludovicense, foi publicada, com a Coordenação de Professores da UFMA, a Carta de Turismo e Hospitalidade de São Luís, em novembro de 2012 (leia aqui http://www.ufma.br/editais/arquivos/cartaturismo_e_hosp._2012.pdf).

Neste "Dia da Hospitalidade", o Núcleo de Projetos e Pesquisas em Hotelaria está dando continuidade à campanha em prol da hospitalidade no dia a dia. Com a colaboração dos estudantes e professores, na campanha “Hospitalidade. Pratique. Compartilhe”, vários banners com mensagens de sensibilização estão sendo compartilhados no facebook (www.facebook.com/nupphoufma). Também será realizada a palestra/debate: A Hospitalidade nas Empresas: avaliações e perspectivas para o mercado brasileiro, no Centro Pedagógico Paulo Freire, das 14h as 17h00.



Nosso obrigado aos que acolheram as ideias deste texto. Fica o convite para praticar e compartilhar a hospitalidade, neste dia da hospitalidade, todos os dias.


Por Davi Andrade
Professor do Departamento de Turismo e Hotelaria | UFMA


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